sábado, 31 de dezembro de 2016

2017/ CINEMA COM VISTA PARA O COSMOS (palpites)


CINEMA COM VISTA PARA O COSMOS:

Palpites Filosóficos, Políticos e Espirituais 

pelo Ressurgimento da Questão Espacial nas Narrativas de Ficção Científica 


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Colagem de Eugenia Loli 

1 / A CONSCIÊNCIA GLOBAL 

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1.1. 1988. The Power of Myth, série televisiva de conversas entre Bill Moyers e Joseph Campbell. Podem ler-se sobre a imagem da Terra as frases que se ouvem do mitólogo: ‘‘Nela não se vê nenhuma divisão entre nações, estados, nada do género. Talvez seja esse o símbolo para uma nova mitologia que virá. Esse é o País que estamos celebrando, e esse é o povo ao qual pertencemos.’’


1.2. Carta ao presente

Escrevo este texto a 20 de Janeiro de 2017, dia em que o recém-eleito Donald Trump toma oficialmente posse da Presidência dos Estados Unidos para os próximos quatro anos, no lugar de Barack Obama. Hoje, enquanto conduzo, oiço o humorista português Ricardo Araújo Pereira (no seu programa de rádio Mixórdia de Temáticas) a satirizar a situação, explicando - num ‘‘direito de antena’’ encenado - como ‘‘a partir de hoje é muito mais provável que o mundo acabe.’’ O exagero para efeitos cómicos não anda muito longe da verdade. Estamos todos fundamentalmente conscientes de como é viver sob o signo da interdependência global e é por isso que trememos com o mesmo medo quando um homem sem perfil para ocupar um cargo público é eleito para Presidente de um país como os EUA. O espectáculo não é uma colecção de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediatizada pelas imagens: a era da ‘‘representação’’ que Guy Débord descreveu em La Société du Spectacle (1973), cumpriu-se hoje como um ‘‘pseudo-mundo à parte’’ e, nas mais recentes eleições à Casa Branca, o espectáculo subverteu a realidade. Na realidade tornada permanente estado de espectáculo, Trump critica os mesmos canais mediáticos que usa para adquirir notoriedade pública. Reforça uma figura de efeito à procura do choque, enquanto ironicamente, se autolegenda com a missão de destruir o falso, o engano e a manipulação tanto nos media, como na classe política. A sua impulsividade corrompe agressivamente os códigos de diplomacia que sempre considerámos indispensáveis ao osso do exercício das relações internacionais. Algures na incerteza e na descrença de um contexto presente que não deixa de saber a pós-política, são as consequências hipotéticas da sua irreflectida imprevisibilidade o que mais receamos. 


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1.2.1. 2016. War In Space - The Next Battlefield, reportagem especial de Jim Sciutto para CNN (Nov 29, 2016). Ouve-se o ponto-de-vista americano na narração em off: ‘‘A batalha para a supremacia no espaço está prestes a começar. (...) Desmantelar e desactivar os satélites no espaço são os primeiros objectivos de um ciber-ataque. (...) Isto não é fantasia, isto é o futuro. (...) Quem são estes adversários? (...) A Rússia e a China.’’


  • JIM SCHIUTTO: - É inevitável? 

  • GEN. JOHN HYTEN: - A resposta é, provavelmente, sim. 


  • JIM SCHIUTTO: - Os EUA estão em risco de perder uma guerra? 

  • P. W. SINGER: - Acho que sim.


Este catastrofismo, alicerçado em termos muito práticos, emerge entre medos e anseios como uma consciência global que preserva viva a memória do passado recente do planeta. Recorda um século XX dilacerado pelos desastres da bomba atómica e pelas catástrofes nucleares, recorda a tensão nuclear da guerra fria, recorda a corrida ao armamento. Nos nossos piores pesadelos, prevemos uma terceira guerra mundial catalisada pela irreflexão de um tweet. Não só Trump é um homem à frente de um país com capacidade nuclear e química para exterminar a vida no planeta, como nos parece suficientemente incauto para, quase por acidente, seguir com uma ofensiva nessa direcção fatal. Os seus oponentes sabem-no ou suspeitam-no e a questão nuclear tem ocupado com protagonismo o espaço mediático internacional. Voltamos a ouvir especular sobre spacewars (1), sobre guerra nuclear, sobre cyber-guerra, sobre guerras inaudíveis, sobre a transposição das guerras do perímetro terrestre para o espaço aéreo, sobre mísseis balísticos intercontinentais. 


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1.2.2. 16.1.2017. Rússia Míssil balístico Topol-M:‘‘A Rússia levou a cabo o teste de um míssil balístico intercontinental RT-2PM2 Topol-M a partir do Cosmódromo GIK-1 Plesetsk no dia 16 de Janeiro de 2017. O lançamento teve lugar a partir de um silo subterrâneo e teve como objectivo «confirmar a estabilidade do voo e as características técnicas do míssil». A ogiva atingiu com sucesso a zona de testes em Kura, Ilha de Kamchatka. Este foi o primeiro míssil Topol-M a ser lançado desde um silo subterrâneo desde Novembro de 2014 e foi o primeiro de dez lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais previstos para 2017.’’ Fonte: http://www.orbita.zenite.nu/


Cada vez mais, encontramos paralelismos entre o sufoco dos sentimentos instalados pela actualidade e o estado de tensão orquestrado na guerra fria - a corrida ao armamento, o foco nas armas nucleares, a ofensiva de um discurso político em permanente desafio, etc - e a narrativa do medo generalizado adiciona-se dia após dia como um romance de cordel. De novo, as relações dos EUA com a Rússia, com o Médio Oriente, com a Coreia do Norte e com a China são lugares ostensivos de insegurança, e a proximidade ao conflito atómico suspende-se como uma ameaça real. Os ciberataques, a hiper-vigilância, o tráfico de informação e os ataques terroristas concretizam-se factualmente no polos políticos e económicos do mundo ocidental. Desde a eleição de Trump em Dezembro, que Putin e Jinping se manifestaram abertamente de formas diferentes sobre a questão do armamento nuclear. 


"A man you can bait with a tweet is not a man we can trust with nuclear weapons." 

  • Hillary Clinton sobre Trump

 

"If your closest advisors don't trust you to tweet, how can we trust you with the nuclear codes?’’ 

  • Obama sobre Trump

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1.2.3.15.1.2017. RECORTE DO JORNAL SUNDAY HERALD Fazendo uma jocosa alusão à componente espectacular e surreal da eleição de Trump, na programação da BBC One pode ler-se: ‘‘Depois de uma longa ausência, a Twilight Zone (2) regressa com uma das mais ambiciosas, dispendiosas e controversas produções da história da televisão’’ O tema é ‘‘a inauguração do Presidente Trump e as ondas de protesto e desespero que rodeiam a cerimónia, enquanto os peritos especulam gravemente acerca do que aí vem. É uma peça com fraquezas, mas um olhar perturbador sobre os horrores com que nos podemos deparar se não tivermos cuidado.’’

1.2.4. 17.1.2017. ‘‘Spam’’ recebido por mail 

1.2.5. 23.12.2016. Artigo no Jornal Público : Uma nova corrida às armas nucleares seria "bem-vinda", diz Trump

https://www.publico.pt/2016/12/23/mundo/noticia/trump-sobre-arsenal-nuclear-que-haja-uma-corrida-ao-armamento-kremlin-desvaloriza-1755971


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1.2.6. 23.12.2016. Fonte - CNN: pode ler-se: ‘‘o recém-eleito Presidente Donald Trump assinalou na passada quinta-feira que procurará ‘‘reforçar e expandir’’ a capacidade nuclear dos EUA, horas depois do Presidente Russo Vladimir Putin ter declarado a vontade de potenciar as forças nucleares do país.’’ (IMAGEM 1.2.8.)

1.2.7. 19.1.2017. Fonte-DNA: Xi Jinping pede ‘‘um mundo sem armas nucleares’’ no seu discurso no Fórum Económico Mundial, em Geneva.

1.2.8. 22.12.2016. Twitter com a declaração de Trump

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1.2.9. 20.1.2017. A estação noticiosa Globo News alude à qualidade inter-global dos mercados; 

1.2.10. 20.1.2017. Contagem em directo no Facebook pela Viral Thread dos anos que faltam até Trump deixar de estar no poder - entretanto apagada pelo Facebook;

1.2.11. 20.1.2017. Em directo no Youtube: ‘‘The 58th Presidential Inauguration of Donald J. Trump 2017’’, NBC News


1.2.12. 09.01.2017. North Korea missile launch threat Trump hancocks 

1.3. UM RETRATO DE CONTEXTO:


‘‘É a colisão entre a realidade e o imaginário, provocada pelo destino mediático de toda a realidade, o facto de toda a realidade estar doravante destinada à sua representação e visibilidade mediática, que atinge hoje toda a experiência, convertendo-a em experiência limite. A realidade tende, por isso, a esfumar-se, adquirindo a existência de uma representação reticular imaginária, nos ecrãs dos televisores e nas bases de dados digitalizados, disponíveis nas redes da informação mediática.”  Adriano Duarte Rodrigues


"Nunca se há de repetir bastante que a nossa época foi o século de ouro da mentira política; disso podem os vossos contemporâneos legitimamente orgulhar-se. Varridas as prudentes reservas e os escrúpulos que ainda retinham o autor do antigo opúsculo, a mentira totalitária, num decisivo avanço, acabou por contaminar a própria natureza da linguagem, a possibilidade de a verdade ser pensada e expressa nas palavras." Jonathan Swift (em Arte da Mentira Política)


A palavra do ano 2016, eleita pelos Oxford Dictionaries, é ‘‘pós-verdade’’, e define-se como um adjectivo ‘‘denotando circunstâncias em que os factos objectivos são menos influentes na modelação da opinião pública do que manipulações da emoção e da crença pessoal’’. A instabilidade e a insegurança vincaram-se ao longo do ano com o Brexit e a eleição de Trump à Casa Branca, mas o conceito de pós-verdade parece ser definidor do presente: todos os dias os media se preenchem com a iminência da desestabilização global. Neste seguimento, a 22 de Janeiro de 2017, o recente conceito de factos alternativos (que já tem uma entrada na wikipedia) é introduzido no discurso mediático pela Conselheira à Presidência de Trump Kellyanne Conway, em defesa do falso testemunho do Secretário de Imprensa da Casa Branca Sean Spicer.


1.4. A GOLDEN AGE DO SCI-FI :

Se a segunda guerra deixou feridas abertas em todos os países participantes, particularmente nos palcos da guerra, na memória recente do mundo estavam ainda as paralisantes imagens da destruição maciça produzida pelas bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki (1945). Nunca a possibilidade de auto-extermínio do Homem pelo Homem pelo recurso às armas químicas e nucleares foi tão real como ao longo das intensas décadas em que a Guerra Fria (com variações de intensidade entre 1947 e 1985) tornou mais agudas as ansiedades gerais. Enquanto os governos difundiam programas civis de protecção contra a hipótese de ataques, distribuindo manuais e máscaras de gás e incitando à construção de abrigos interiores e bunkers domésticos (IMAGEM 1.4.2), a televisão das décadas de 40/50 (a golden age do sci-fi e dos filmes de série B) reconfigurava monstros e humanos deformados, consequências imprevistas dessa tão temida radioactividade. Hoje já suficientemente esclarecidos para saber que é vão combater a radiação com máscaras de gás, fatos, bunkers ou manuais, estamos dolorosamente conscientes da potência crescente do armamento nuclear, certos de que hoje uma guerra com armas atómicas equivale ao extermínio do planeta como o conhecemos.

1.4.1. 2005. Watch the Skies: Sci-Fi, the 1950s and Us (documentário televisivo de Richard Schickel)

1.4.2. 1965. The War Game (filme de Peter Watkins)

2 / O VIRAR DO MILÉNIO E O RESSURGIMENTO DA QUESTÃO ESPACIAL

2.1. 1963. Le Petit Soldat, filme de  Jean-Luc Godard

2.2. 1959. Eyes in Outer Space, info-filme da Disney


Quem hoje se demore um pouco entre o zapping dos canais por cabo, ou repare semanalmente nos filmes em cartaz no cinema, irá deparar-se com a crescente popularidade do género sci-fi. A ficção científica sempre entusiasmou o gosto popular, adiantando por escrito as admiráveis proezas que o homem demoraria a cumprir. No século XIX, já Jules Verne ou H.G. Welles efabulavam acerca da chegada do Homem à Lua que Méliès filmaria em 1902, para o filme Le Voyage dans la lune, demonstrando desde os seus primórdios a estreita vocação do cinema enquanto medium privilegiado para cumprir a eterna vontade da arte de dar matéria à fantasia, ao fantástico e ao imaginário, e assim celebrando as suas origens populares e a qualidade de espectáculo de massas. O que explica estes olhos subitamente dirigidos para o céu?

‘‘Cinema isn't a place, it's an idea’’

RICHARD BRODY 

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2.1. 1865. De la Terre à la Lune, trajet direct en 97 heures 20 minutes, capa da primeira edição do francês Jules Verne que descreve a chegada do Homem à Lua.  

2.2. 1897. Capa da primeira edição de The War of the Worlds (A Guerra dos Mundos), impactante romance de ficção científica escrito pelo britânico Herbert George Wells que descreve a invasão da Terra por marcianos assassinos. Seria adaptado à rádio por Orson Welles em 1938, numa célebre emissão noticiosa ficcionada que criou um estado de pânico geral. 

2.3. 1878. No romance de ficção científica The Call of the Cosmos, Konstantin Tsiolkovsky investiga a possibilidade do Homem ir à Lua. 

2.4. 1923. Aelita, The Decline of Mars, romance de ficção científica do autor russo Aleksey Tolstoy.


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2.5. 1902. No filme Voyage Dans La Lune, de Méliès, 1902, o Homem chega à Lua num gigantesco projéctil, igual ao descrito e ilustrado no livro de Verne De la Terre à la Lune;

2.6. 1988. No filme Histoire de Vent, de Joris Ivens + Marceline Loridan-Ivens, o casal de realizadores pisca o olho ao filme de Méliès.


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2.7. 1921. O filme Aelita, Queen of Mars, de Protazanov, adaptação do livro homónimo de Alexei Tolstoy. 

2.8. 1929. O filme Frau im Mond (A mulher na Lua) do alemão Fritz Lang mostra uma mulher a ir à Lua em plena República de Weimar, num projéctil similar ao anteriormente mostrado por Méliès a partir de Verne. 

2.9. 1935. O filme Cosmic Voyage de Vasili Zhuravlev, é uma visão estalinista da aterragem do Homem na Lua. 


A intenção de um efeito espectacular atravessa a produção de ficção espacial mas, muito para lá do entretenimento, nela reside indirectamente um projecto especulativo muito concretamente alicerçado em temas e objectivos científicos transversais às suas proveniências. À medida que o espaço sideral é progressivamente domesticado pelas inúmeras narrativas de ficção, este imaginário produz um espelho das faltas, anseios e impossibilidades do Homem na Terra. Lembrados da frase de Picasso que diz que ‘‘a arte é a mentira que nos faz ver a verdade’’, decalcamos desta divulgação múltipla de propaganda uma utopia partilhada da emancipação humana (que não só acontecia nos EUA e na URSS, como um pouco por todo o mundo). Mas trata-se também (afirma Neil deGrasse Tyson (8)), de um endereçar indirecto dos medos colectivos que se materializam numa colecção difusa e hipotética de possibilidades de salvação contra a extinção. 


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2.10. 2005. Mon Jules Verne, filme de Patricio Guzmán

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2.11. 2010. Astronomers from my Neighbourhood, curta de Patricio Guzmán


3 / A FICÇÃO CIENTÍFICA COMO GÉNERO POPULAR

Ao longo da guerra fria, os acelerados avanços na ciência, tecnologia, matemática, engenharia, design e comunicações reflectem-se numa vasta produção de sci-fi que, com similar inventividade, propõe evasões à turbulência da época, atravessada pela Corrida Espacial, pela construção do Muro de Berlim, pela Crise dos Mísseis Cubanos e, fundamentalmente, pela sucessiva falência nas tentativas de resolução diplomática entre os EUA e a URSS. Em Dreamworld and Catastrophe: The Passing of Mass Utopia in East and West (2000), Susan Buck-Morss define a experiência colectiva soviética ‘‘como um estado de sonho, onde a constante propaganda utópica entrava em conflito com as dificuldades da nação real’’. Se o americano Neil Armstrong só pisaria a Lua pela primeira vez em Julho de 1969, a geração anterior já tinha crescido entre séries, filmes, livros, brinquedos e bandas desenhadas protagonizadas por essa recente versão avançada da humanidade que cumpre a sua potencialidade no espaço. Esta entrada da ciência no espaço doméstico por via do culto massificado da ficção científica enquanto género popular traduz a reivindicação de um alargado ‘‘direito ao saber’’: o entusiasmo da fascinante descoberta do átomo define o arranque da época de todas visibilidades e o discurso científico integra a agenda mediática como assunto de interesse público, parte indispensável da cultura geral. 


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3.1. 1954. Série Disneyland - episódio ‘‘Man on the Moon’’ com o cientista Werner Von Braun que, depois de trabalhar com o regime nazi (sendo responsável pelo foguetão V2), emigra para os EUA e torna-se um dos principais impulsionadores do Programa Espacial Americano, sendo o primeiro director da NASA. 

3.2. 1954. Série de televisão americana Rocky Ranger

3.3. 1962-1963. The Jetsons (produzido por ABC e criado pelos estúdios Hanna-Barbera)


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3.4. 1954. Série Disneyland - episódio ‘‘Mars and Beyond’’: nesta emissão já se especula sobre a possibilidade do Humano viver em ‘‘cidades pressurizadas’’ para responder à ‘‘sobrepopulação na Terra e à saturação dos recursos’’. 

3.5. 1974. Phase IV, filme de Saul Bass

3.6. 1959-1964. Série de televisão The Twilight Zone 


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3.7. 1965. The Moon, filme de Pavel Klushantsev (URSS)

3.8. 1957. Road to the Stars, filme de Pavel Klushantsev (URSS)


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3.9. Brinquedos americanos produzidos durante a era espacial


4 / ‘‘HOMO COSMICUS’’

“The saddest aspect of life right now is that science gathers knowledge faster than society gathers wisdom.”
Isaac Asimov


“O progresso tecnológico ocupou completamente a palavra progresso.” 

Gonçalo M. Tavares


4.1. O ANTROPOCENO

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4.1.1. 2005. First on the Moon, filme do russo Aleksei Fedorchenko


‘‘A questão da génese do Homem é, para nós, hoje, um assunto irredutível.’’ 

Bernard Stiegler


Antropoceno é um termo cunhado na geologia pelo holandês Paul Crutzen (e adoptado pela climatologia, meteorologia, ecologia e também pela filosofia, teologia, antropologia e demais ciências sociais) para descrever a camada mais recente na história estratográfica do Planeta Terra. Não há data de início precisa e oficialmente apontada, mas é mais comum considerar-se que começa no final do Século XVIII, quando as actividades industriais humanas começam a ter um impacto global negativo no solo, no clima da Terra e na harmonia dos seus ecossistemas. O filósofo Peter Lemons (15) recorda como ‘‘Um dos mais imperativos assuntos que a civilização tem de enfrentar no presente é lidar com as consequências do progresso tecno-científico’’. O antropoceno evoca a implicação na relação com a vida na Terra e convoca, junto do humano, numa atitude de responsabilidade pelas consequências da sua acção que, em última análise, segue o curso da autodestruição.  O antropoceno, afirma Bernard Stiegler, é o resultado da frustração humana com o trabalho, não com o labor (15), sublinhando a qualidade mediada pelos recursos tecnológicos da conexão entre a população humana contemporânea, pós-industrial e urbana, com o seu próprio planeta. E o resultado, lembra o filósofo, é o sobreconsumo, o capitalismo aditivo, é uma doença. (15) Como avança Luhuna Carvalho, ‘‘Latente à problematização e periodização do Antropoceno surge o papel do capitalismo enquanto ângulo morto’’ (17). É neste contexto de levantamento de culpa e de tomada de responsabilidade em espaço público que o discurso ecológico surge nos países desenvolvidos, como uma imperativa urgência a tomar parte integrante em qualquer agenda política. Face ao tom acusatório de um discurso que imputa responsabilidades a todos, o peso recente que agrilhoa a relação entre o Homem e a Terra é enquadrado pelo desespero, pelo catastrofismo e pela paralisia da incapacidade: aos ombros de cada um está uma convocatória para participação numa missão que tem todo um planeta por resolver. E é no interior desta reflexão do presente centrada no Antropos, que a ligação do Homem ao espacial, ao cosmos, ao extra-terrestre, é lugar hipotético de um futuro que parece não ter condições para acontecer na Terra. 


“Não há sítio para que o homem se salve. Nem debaixo da terra, nem debaixo da água, nem ao ar.” La comédie atomique  de Yves Lenoir

4.2. SER HUMANO PARA LÁ DA TERRA 


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4.2.1. 2011. Take Shelter, filme de Jeff Nichols


‘‘Esta espécie que desenvolveu uma inteligência superior está agora a utilizá-la para se destruir mutuamente e está agora à beira da aniquilição. (...) O que agora se discute são tweets às 3 da manhã, vários tipos de vulgaridade, tudo menos problemas sérios e um dos mais sérios problemas convocados pela história humana, nomeadamente ‘‘Iremos sobreviver?’’ estão fora da discussão (...), tal como ‘‘Como poderemos garantir a nossa sobrevivência?’’ Noam Chomsky 

(sobre o Antropoceno e a Era Nuclear (9))


Que versão remodelada de Humano é esta inscrita na expressão Homo Cosmicus? É um ponto de desintegração intencional das coordenadas prévias. Redefinindo-se em demandas bigger-than-life saídas dos indícios de realidade, este Homo Cosmicus desenha-se segundo um permanente confronto com a sua dimensão universal. 

O Homo Cosmicus é a designação do homem que sente que não pode viver neste planeta por mais tempo. A atmosfera terrestre está poluída, a extinção da fauna e flora acelerou-se e a guerra, a fome e o ódio (ainda) grassam entre a espécie humana, tornando a terra um lugar hostil e imprevisível. 

As mais eternas questões existenciais evocam-se nas imagens do momento em que, no cúmulo do progresso técnico, o corpo humano em ascensão física para o espaço parece trazer consigo uma vontade de progresso espiritual. Este Homo Cosmicus tem uma medida de contornos universais (consciente da unidade da espécie humana) e, ao mesmo tempo que é o protagonista de narrativas ficcionais atravessadas por questões políticas, históricas e científicas relevantes ao presente na terra é, num tempo de crise, um agente da conquista de possibilidades radicalmente novas para a continuidade da espécie. É de notar que o Homo Cosmicus que aqui propomos não é somente o novo Humano imaginado que protagoniza as ficções do sci-fi recente, mas todo aquele que se envolve numa reflexão séria sobre o futuro do Homem e a questão espacial. A ficção científica tem sido um veículo privilegiado desta identidade oscilante que, com contornos espirituais, se apresenta com o optimismo de uma renovação humanista. 

Na cultura visual mainstream, filmes como The Martian IMAGEM 8.11., Interstellar IMAGEM 8.7, Gravity IMAGEM 8.3., Moon IMAGEM 8.1. são protagonizados por astronautas que tanto nos são apresentados como figuras heróicas que lutam individualmente pela sobrevivência, como embaixadores de uma causa colectiva que, ao procurar hipóteses de resolução das condições do presente, sintetizam também propostas de acção organizada para o futuro.  

Como enunciou Bazin, ‘‘o realismo na arte só pode ser conseguido de uma forma - através do artifício’’ e é por isso que o cinema de ficção pode, contra todos os vaticínios de fim dos tempos ser um intrínseco e necessário elogio ao progresso, e um veículo real de esperança no amanhã por chegar. Auxiliado pela liberdade possível ao sci-fi, este ‘refrão’ atonal de novos títulos que convergem para o ressurgimento global de um interesse pelo cosmos, não é necessariamente definido por uma agenda, mas por intenções maiores. Prova é que se materializa tanto entre os mais experimentais filmes independentes (Another Earth IMAGEM 8.6., Nostalgia de La Luz IMAGEM 8.4, El Botón de Nácar IMAGEM 8.4, etc...) como entre os mais hollywoodescos blockbusters (Gravity IMAGEM 8.3., The Martian IMAGEM 8.11., Interstellar IMAGEM 8.7, etc), meditando das mais variadas formas acerca das possibilidades do Homem fora das contingências materiais da Terra. Um utopismo?

4.2.1. 1980. Snakes and Ladders, filme de Raul Ruiz 


4.3. O COSMOS É MAIS DE UNS DO QUE DE OUTROS?

O que significa politicamente que a questão espacial seja uma prioridade que mobiliza milhões para a exploração do espaço, quando três terços da população terrestre vivem em pobreza extrema? Será que, num convite à evasão, a popularidade do gosto pelo sci-fi transporta uma demissão colectiva de participação política no mundo real? Será que há uma imperativa necessidade de defesa a estudar? Ou será ainda o profundíssimo reflexo popular de um compartilhado estado de pós-política, de descrença nos sistemas disponíveis?

No filme Kardiogramma (IMAGEM 4.1.), uma criança brinca até decidir entrar em casa e sossega enquanto, de olhos pregados na televisão, vê o Homem a aterrar na Lua. Ao lado, a mãe observa o ecrã com a moderada atenção de quem está ocupada no desempenho de uma tarefa doméstica. Esta é uma cena verdadeiramente emblemática do optimismo relativo face ao progresso científico. Neste Mundo de ''simultaneidades'', há fendas abismais na civilização: se alguns humanos, no cúmulo da evolução, têm poder para ir à Lua, outros igualmente humanos vivem praticamente como há milhares de anos. O que a ciência a partir dali tornou real (deixando de ser fantasia que o Homem pode aterrar na Lua), não deixa de saber a continuação do espectáculo televisivo a quem, em termos materiais, em nada é afectado por esse progresso na realidade mais prática da sua vida comum. 


“... Duas teses encontram-se estritamente conectadas: a do processo histórico global e a da incapacidade daqueles que lhe estão submetidos.”

 Jacques Ranciére


‘‘Neste meio século, não parece que os governos tenham feito pelos direitos humanos tudo aquilo a que moralmente estavam obrigados. As injustiças multiplicam-se. As desigualdades agravam-se. A ignorância cresce. A miséria alastra. A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante. Mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos.’’ Saramago


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4.3.1.  1995. Kardiogramma, filme do realizador cazaque Darezhan Omirbaev. 

5 / ONDE PODEMOS IR AINDA?

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5.1. 1969. A Space Oddity, Ground Countrol do Major Tom - Major Tom é um astronauta fictício criado por David Bowie, que protagoniza as músicas "Space Oddity", "Ashes to Ashes" e "Hallo Spaceboy".

5.2. 1971. Life on Mars: '‘Is there life on Mars?’’, pergunta David Bowie três anos depois do Homem pisar a Lua pela primeira vez no álbum Honky Dory

5.3. 1973. The Dark Side of the Moon, da banda britânica Pink Floyd


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5.4. 1968. 2001, A Space Odyssey, filme de Kubrick

5.5. 1976. The Man Who Fell To Earth, filme de Nicolas Roeg


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5.6. 1972. Solaris, filme do russo Tarkovsky (a partir do livro de 1961 do polaco Stanisław Lem)

5.7. 1974-2013. Jodorowsky’s Dune - é o relato realizado por Frank Pavich do projecto para filme épico Dune que Jodorowsky não chegou a realizar em 1973, e que seria realizado por Lynch em 1984


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5.8. 1972. Silent Running, filme do americano Douglas Trumbull

5.9. 1984. Dune, filme do americano David Lynch  


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Screen Shot 2017-01-20 at 17.32.29.png Screen Shot 2017-01-20 at 17.42.15.png

5.10. 1965-1966. Lynn Chadwick: Moon Series

There's a starman waiting in the sky

He's told us not to blow it

'Cause he knows it's all worthwhile

"Starman"de David Bowie (1972) 

6 / PÔR O HOMEM NA LUA

‘‘ Every step is moving me up / Moving, it's moving me up /  

This is how we walk in the Moon’’ 

JOSÉ GONZÁLEZ 

6.1. A POLÍTICA DO COSMOS

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6.1.1. 1957. O lançamento do 1º satélite artificial pela URSS, o Sputnik I, assinala internacionalmente o início da Era Espacial

6.1.2. 1957. Pode ler-se: ‘‘Os Russos ganham a corrida para lançar um Satélite a partir da Terra’’

6.1.3. 1957. Laika, a cadela que viajou a bordo do Sputnik II 

6.1.4. 1958. Lançamento do primeiro satélite artificial americano, Explorer I

6.1.5. 1959. Sputnik III, a terceira missão do programa Sputnik da URSS 

6.1.6. 1966. Propaganda interna da URSS


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6.1.7. 1969. Primeiras imagens do Homem na Lua, a 20 de Junho de 1969 - pelo Comandante Neil Armstrong; 6.1.8. 1969. Variadas capas de imprensa escrita da época.


‘‘O New York Times teve de publicar um artigo explicando aos americanos que (o Sputnik) não continha bombas nucleares que pudessem ser largadas sobre a cidade àquela altitude.’’ Howard McCurdy, historiador, sobre o contexto de recepção do lançamento do Sputnik nos EUA, em 1957.


‘‘Nos anos 60, fomos ao espaço porque estávamos em guerra, mesmo que a nossa memória nos diga algo diferente. Pensamos sobre esses tempos: ‘‘Éramos aventureiros! Éramos exploradores!’’ mas olhamos para a retórica e vemos que, no mesmo discurso em que Kennedy diz ‘‘Vamos por um homem na Lua e trazê-lo em segurança’’ (7) basta andarmos uns parágrafos para trás até à parte em que ele diz ‘‘Temos de mostrar ao mundo o caminho da liberdade sobre o caminho da tirania’’, porque estávamos agitados pelo facto de Yuri Gagarin ter chegado a órbita apenas seis semanas antes desse discurso.’’ Neil deGrasse Tyson (8)


‘‘Tout se résume dans l’Esthétique et l’Économie politique’’, escreveu Mallarmé (5). E se tudo se resume na estética e na economia política, o valor demonstrativo da corrida espacial assentou precisamente na qualidade ostensiva do encruzamento dos palcos mediáticos de cada um dos blocos ideológicos. Esta narrativa do progresso técnico sucessivamente tornada visível pela especulação noticiosa, planta o permanente suspense que traduz o estado de conflito. Sendo o mais público dos palcos da disputa entre os EUA e a URSS, a corrida espacial tem a capacidade de reproduzir iconograficamente o poder das duas potências em confronto ao longo da guerra fria - e os seus avanços nesta space race tornavam-se metonímicos da sua potência nuclear e, por conseguinte, um temor acrescido para o adversário. Entretanto, a profusão do sci-fi na cultura mainstream acontece um pouco o todo o mundo, que assistia, com expectativa, ao início da era espacial. O estado geral de fascínio face às potencialidades da conquista do espaço, produz um misto simultâneo de fé no progresso humano e de temor pelas suas consequências. Enquanto a curiosidade popular segue os sucessivos feitos da corrida espacial, a certeza de um equivalente desenvolvimento no armamento nuclear suspende-se como uma ameaça. O espaço adianta-se agora como um possível novo palco de guerra e a qualidade bélica da corrida espacial age como um prenúncio das spacewarssimbolicamente interrompidas pela assinatura do INF, um dos mais decisivos passos para o fim da guerra fria. Aprendemos muito concretamente com a História que os principais avanços tecnológicos de que hoje dispomos todos são resultados directos de pesquisas militares e de necessidades da guerra (desde os enlatados à penicilina, desde a internet aos telemóveis). Assim, assistir hoje às movimentações científicas é quase suspender uma adivinhação das intenções bélicas que as precedem.


  • JIM SCHIUTTO: - Quando se vê um satélite de outro país a mover-se assim no espaço, há alguma outra explicação para além de que eles estão a testar as suas capacidades ofensivas?

  • TENENTE ANDREW ANGLE: - O que quer que seja que tenha esse tipo de capacidade, pode transformar-se em capacidade ofensiva. 

(DDO - Defensive Duty Office / America’s Space Command, em entrevista à CNN em War in Space, 2016)


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6.1.9. 1977. Space Wars - jogo electrónico para a consola Atari (screenshot)

6.1.10. 1987. Assinatura do INF Treaty - Intermediate-Range Nuclear Forces Treaty (INF Treaty) ou Treaty Between the United States of America and the Union of Soviet Socialist Republics on the Elimination of Their Intermediate-Range and Shorter-Range Missiles, em Dezembro 1987, entre Reagan (USA) e Gorbachev (URSS). A 13 de Dezembro de 2001, o Presidente George W. Bush propôs à Rússia um pré-aviso de 6 meses a par da notícia da saída dos EUA do tratado Anti-Ballistic Missile Treaty, para que pudesse prosseguir com o programa National Missile Defense (NMD), que então já estava potencialmente em violação do Tratado. A 10 de Fevereiro de 2007, o presidente russo Vladimir Putin declarou que o Tratado INF Treaty já não servia os interesses russos. O American Enterprise Institute salientou que o principal problema que hoje se adicionava ao INF é que a China não faz parte dele e continua a construir o seu armamento sem contenções diplomáticas.



  • JIM SCHIUTTO (em off): - Há não muito tempo atrás, esses satélites e o espaço que ocupavam eram considerados seguros, em relação a tudo menos asteróides e detritos espaciais. Já não são. (...) O desafio é: o que fazer quando soar o alerta? Ao contrário dos seus adversários, os EUA não armaram o espaço. (...) 

  • GENERAL BUCKS: Estes satélites foram construídos há 15 anos e lançados numa era em que o espaço era um ambiente benigno. Não havia ameaça. Pode imaginar-se construir um jet sem capacidades de defesa? Os nossos satélites estão em risco. E as nossas estruturas terrestres estão em risco. 

 (DDO - Defensive Duty Office / America’s Space Command, em entrevista à CNN em War in Space, 2016)


‘‘A ameaça nuclear está a aumentar. Alguns dos mais elevados especialistas e estrategas nucleares, tais como William Perry, anterior Secretário da Defesa, argumentam que a ameaça da guerra nuclear hoje é maior do que na guerra fria.’’ Noam Chomsky (9)


6.2. ‘‘QUEM FALA PELA TERRA?’’

6.2.1. 1977. Capricorn One, filme de Peter Hyams. (Este filme alude à teoria da conspiração de que o Homem não foi à Lua em 1969, mas que o acontecimento foi estrategicamente filmado para a difusão televisiva em estúdio (há quem arrisque que por Stanley Kubrick) para que os EUA não perdessem a corrida espacial. Em Capricorn One, três astronautas preparam-se para a primeira missão tripulada para Marte quando são retirados sem aviso no último instante antes do lançamento, pois o governo descobre uma falha no sistema que os levaria à morte caso fossem na missão. mas em conjunto decidem filmar, numa base militar abandonada, imagens dos astronautas dando os primeiros passos em solo marciano. No filme, ouve-se como uma hipótese de correcção ao que se passara em 1969: ‘‘We do not claim this planet in the name of America. We claim it in the name of the people of the Earth.’’)


‘‘...Quando dou estes últimos passos para fora da superfície lunar, gostaria de lembrar que o desafio da América de hoje forjou o destino do homem do amanhã...’’ Palavras do astronauta Eugene Cernan, ‘‘O Último Homem na Lua’’, ao reentrar no Módulo Lunar Apollo para a viagem de regresso à Terra, em 1972. 


No dia 20 de Julho de 1969, ‘‘a águia pousou’’ na superfície lunar e Neil Armstrong proferiu a frase emblemática da Era Espacial: ‘‘É um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade.’’ Mas se o primeiro astronauta a pisar a Lua fala em nome de toda a Humanidade, a grande questão que se suspende é necessariamente: porque é que a bandeira lá colocada tinha de ser a americana? A resposta deduz-se obviamente do contexto - o da guerra fria - mas, ainda assim, não está inscrito nesse gesto americano o início de uma ofensiva à escala espacial, a acontecer assim que as potências em conflito na terra transpõem esse mesmo conflito para o espaço?


6.2.2. Thom Yorke diz: NO STAR WARS  


‘‘Já se tentou por variadas vezes. Albert Einstein disse-o assim que a bomba atómica aconteceu: ‘‘Temos de ter um governo universal senão é o nosso fim.’’ Muitos outros chegaram à mesma conclusão. Se retrocedermos até aos anos 40, alguns dos best-sellers eram discussões acerca de como podemos chegar a um governo mundial. (...) E houve um esforço: chama-se Nações Unidas, que foi bastante sabotado pelos nacionalismos competitivos.’’  

Noam Chomsky (9)


Como tão bem problematizou Carl Sagan no título de um dos seus episódios de Cosmos (IMAGEM 12.5.), a mesma pergunta suspende-se ainda hoje: Quem fala pela Terra?, que carrega consigo outras questões centrais: Será que o universalismo que Joseph Campbell preconiza (IMAGENS 1.1.) se materializará algum dia numa necessária tentativa de formulação de identidade civilizacional global? Quais são as consequências geopolíticas da conquista do espaço? Será esta expansão um alargamento dos territorialismos globais ou o despertar de um valor universal de unidade humana? Será que, por via de necessidades maiores como a preservação dos recursos e da espécie humana, a guerra espacial entre nações terrestres poderá vir a ser evitada? O espaço é o futuro da humanidade ou o lugar para um novo colonialismo?

‘‘Spaceman, in another place and time

I guess I'm lookin' for a brand new place

Is there a better life for me?’’

Spaceman de 4 Non Blondes (1992)


“Maybe the target nowadays 

is not to discover what we are 

but to refuse what we are.” 

Foucault


“What’s wrong with dreaming?”

Neil deGrasse Tyson (8)


6.3. O CAPITALISMO ESPACIAL

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6.3.1. 1984. O astronauta Dale A. Gardner (1948-2014) - tendo, em 3 dias, completado a maior parte do seu segundo período de actividade extraveícular (EVA) -  segura um cartaz ‘‘For Sale’’ / ‘‘À Venda’’, referindo-se ao malfuncionamento dos dois satélites Palapa B-2 e Westar 6, depois redireccionados de órbita na sequência de falhas nos seus Payload Assist Modules (PAM). O Astronauta Joseph P. Allen IV, que também participou nestas duas EVAs, está reflectido no visor do capacete de Gardner.

6.3.2. 1998. Space Adventures: Suborbital Space Tourism. Esta agência de viagens para ‘‘astronautas privados’’ organizou, desde 2001, 6 vôos comerciais ao espaço.


Apesar da Space Age se iniciar pelos anos 50, as companhias privadas não organizaram vôos para o espaço senão na década de 80, e só no século XXI concretizaram essa possibilidade como um produto comercial. Ser astronauta tornou-se um caminho acessível a todos, mediante possibilidades financeiras para o feito.

Como exemplo desse investimento privado no espaço, a Google Lunar X PRIZE  surge como uma competição internacional organizada pela X PRIZE Foundation, instituição que organizou o Ansari X Prize, e é patrocinada pela Google. O objectivo é financiar a primeira missão privada à Lua e, em 2017, colocar um rover no solo lunar para prospecção, mapeamento e livestream Google. Até ao momento, disputam o Google Lunar XPRIZE (também chamado de Moon 2.0) cinco equipas internacionais com maquetes para rovers lunares: SpaceIL (Israel), Moon Express (USA), Synergy Moon (International), TeamIndus (India) e HAKUTO (Japão). Recorda-se que a última aterragem na lua aconteceu em 1976. 

7 /  O MITO COMO FORMA DE NARRATIVA ESPECTACULAR

 ‘‘Estou a narrar um velho mito de uma forma nova. É assim que transmitimos os mitos fundadores da nossa sociedade às novas gerações.’’ 

George Lucas, criador de Star Wars

 

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1977- presente. A Saga Espacial Star Wars é o maior fenómeno de popularidade na ficção científica espacial e foi criada por George Lucas, lançando um novo episódio a cada três anos: Star Wars (1977), The Empire Strikes Back (1980), Return of the Jedi (1983), The Phantom Menace (1999), Attack of the Clones (2002), The Revenge of the Sith (2005), Star Wars: The Clone Wars (2008), The Force Awakens (2015), Rogue One: A Star Wars Story (2016). 


8 / UM ‘‘HOMO-COSMICUS’’

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8.1. 2009. Moon, filme de Duncan Jones (filho de David Bowie)

8.2. 2010. Tree of Life, filme de Malick 


 

8.3. 2013. Gravity, filme do mexicano Alfonso Cuarón (produção americana)

8.4. 2010. Nostalgia de La Luz, filme do chileno Patricio Guzman 


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8.5. 2015. El Botón de Nácar, filme do chileno Patricio Guzman

8.6. 2014. Another Earth, filme do americano Mike Cahill



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8.7. 2014. Interstellar, filme de Christopher Nolan


8.8. 2014. Episódio 1 da Season 1 da série japonesa de anime Space Dandy

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8.9. 2016. Mars, mini-série de docu-ficção da National Geographic (2016)

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8.10. 2017. David Bowie: The Last Five Years, documentário produzido pela BBC 

8.11. 2015. The Martian, filme do inglês Ridley Scott



9 / O COSMOS E A POTÊNCIA ESPIRITUAL

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9.1. 1960. Romeo, Juliet and darkness, filme do checo Jiří Weiss 


9.2. 2000. Werckmeister Harmonies, filme realizado pelos húngaros Béla Tarr e Ágnes Hranitzky


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9.3. 1991. Man in the Moon, filme de Robert Mulligan

9.4. 1972. The Effect of Gamma Rays on Man-in-the-Moon Marigolds, filme de Paul Newman  


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9.5. 2015. Heart of a Dog, filme da americana Laurie Anderson (pode ler-se: ‘‘As a child I was a kind of sky worshipper (...) I knew I had come from there and that someday I would go back.’’)




10 / A REFORMULAÇÃO DO LUGAR DO HOMEM NO UNIVERSO

10.1. O HOMEM DO SÉC. XX PARA O SÉC. XXI


Screen Shot 2017-01-20 at 20.10.48.png Screen Shot 2017-01-20 at 20.08.49.png 

10.1.1. 2005. Watch the Skies: Sci-Fi, the 1950s and Us (documentário de Richard Schickel)

10.1.2. 2011. Videoclip de The End of Time, single de lançamento da ‘‘cantautora’’ Computer Magic - que aparecerá em quase todos os seus vídeos vestida de astronauta 

10.1.3. 2017. Videoclip de Be Fair, de Computer Magic


Os novos paradigmas geo-políticos convocam uma constante necessidade de reformulação do lugar do Homem no Universo. Com a era espacial, o protagonismo do interesse no cosmos traduz-se na cultura popular como um reflexo decisivo da viragem do século XX para o século XXI. Se, em resposta às grandes ideologias do ‘‘século dos ismos’’, o cinema do século XX criou uma retrato ostensivo da necessidade de resgatar o corpo humano dos ritmos da máquina e das imposições castradoras do trabalho manual, responsável pela sua escravatura, com o avanço tecnológico do século XXI, a máquina parece ter substituído já totalmente o corpo, libertando-o para que o sistema lhe ocupe a mente. 

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10.1.3. 2004. The Ister, filme de David Barison e Daniel Ross. No still, pode ler-se uma frase de Stiegler: ‘‘A Globalização é a globalização da técnica’’.


11 /  2005: O RETOMAR DAS VIAGENS  ESPACIAIS - NASA

‘‘Aeronautics hacked

The spine of paragraphs’’

Cosmonaut, At the Drive In (2000)


11.1. DESTINO: MARTE


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11.1.1. 2010. Discurso do Presidente Obama no Kennedy Space Center. (9)

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11.1.2. 2010. Na sequência da palestra de OBAMA no Kennedy Space Center


‘‘Não queremos apenas continuar pelo mesmo caminho, queremos um salto para o futuro, queremos avanços decisivos.’’ Obama no Kennedy Space Center (9)


O falecimento recente (16/1/2017) de Gene Cernan, o último homem a pisar a Lua (comandante da Apollo 17, a última das naves da missão Apollo) recorda-nos do hiato a que o programa Apollo (a série de missões de vôos espaciais tripulados e de novas explorações da Lua e a Marte) esteve sujeita. No seu discurso no Kennedy Space Center (15/4/2010), Obama incitou a que a NASA pudesse, num futuro próximo, revitalizar o programa espacial americano e concretizar a necessidade de atravessar o espaço para lá da Lua, prevendo enviar astronautas para um asteróide e que, até 2030, os humanos cheguem a Marte. É esta a base da verossímil mini-série de docu-ficção Marte (National Geographic, 2016, IMAGEM 8.9) que, passada em 2030, funde entrevistas verídicas com um enredo fictício protagonizado pelo primeiro grupo de astronautas que aterram e colonizam o planeta Marte. A base real deste projecto é o detalhado relatório de 36 difundido páginas publicamente pela NASA, em 2015, que explicava, ao detalhe, como prevê criar colónias humans em Marte nos anos 2030. Numa declaração que acompanhou a divulgação do relatório, o actual administrador da NASA Charles Bolden anunciava que os Estados Unidos estão "mais perto de enviar astronautas a Marte do que em qualquer outro momento da sua história".

Na era do entusiasmo científico, o retomar das missões tripuladas (em vez dos anteriores vaivéns) em 2005 marca o início de uma nova relação com o espaço que, progressivamente, se traduz na cultura mainstream entre inventivos acréscimos que constroem um retrato esperançoso do mistério do cosmos como uma chave possível para responder às mais estruturais questões científicas e filosóficas. 


‘‘O programa espacial não é apenas sobre ir para o espaço. É o tentáculo da revitalização americana da ciência.’’ Gideon Rose (8)


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11.1.3. 2010. Fonte: ABC News

11.1.4. 2017. CNN: Nasa explica os seus planos para colonizar Marte até 2023


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11.1.5. 1963. ‘‘Dr. Wernher von Braun explains the Saturn system to President John F. Kennedy at Complex 37 while President Kennedy is on tour at the Cape Canaveral Missile Test Annex on Nov. 16, 1963.’’ (NASA)




''To establish life in another planet in the solar system, just in case something goes wrong with Earth...'' Elon Musk 

Em Lo and Behold - Reveries of the Connected World, filme de Herzog, 2016


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11.1.6. 1977. Le Camion, filme de Marguerite Duras 

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11.1.7. 2016. Lo and Behold - Reveries of the Connected World, filme de Herzog 

11.1.8. 2016. La deuxième nuit (The Second Night), filme de Eric Pauwels

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11.1.9.  1977. Our Hitler (Part I) filme de Hans-Jurgen Syberberg 

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11.1.10.  1955. Love Is a Many-Splendored Thing, filme de Henry King 

11.1.11.  1955. East of Eden, filme de Elia Kazan 

11.2. A ERA DOS REMAKES

11.2.1. 1966-1969. Star-Trek: primeira série

11.2.2. 1979 / 1984 / 1986 / 1989 / 1991 / 1994 / 1998 / 2002 / 2009 /  2013 / 2016: Star-Trek: filmes


11.2.3. 1978. Battlestar Galactica - série televisiva que surge na sequência da popularidade de Star Wars

11.2.4. 2004-2009. Battlestar Galactica -  série televisiva 


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11.2.5. 1980. Cosmos, a série televisiva em 13 episódios do astrofísico Carl Sagan foi um sucesso de audiências em vários países e a versão escrita do programa continua a ser o livro de divulgação científica mais vendido de sempre.

11.2.6. 2014. Cosmos - A Spacetime Odyssey, continuação da série de Sagan, apresentada por Neil deGrasse Tyson.


12 /  O MISTÉRIO DO INFINITO

12.1. O  PRESENTE EM DESCONSTRUÇÃO

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12.1.1. 2012. The Legend of Kaspar Hauser, filme de Davide Manuli.

12.1.2. 1945. Leave her to Heaven, filme de Stahl


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12.1.3. 2017. video para LOVE, canção de Lana del Rey 


Multi-, Pós-, Alter-, Sobre-. Os prefixos adicionam-se aos vários estilos, movimentos e balizas temporais e estéticas para encontrar definições para a complexidade de um presente em ponto de modificação permanente. Esta instabilidade sente-se no estado de desconfiança que emoldura a sucessiva oscilação de conhecimentos e informações, e suspende-se numa suspeita informe de uma realidade obscurecida, impenetrável, como um outro mundo que se sabe interdito ao acesso comum. As audiências de hoje estão plenamente conscientes do poder dos media de criar “realidades’’ - filmes como Matrix (1999), Dark City (1998) ou The Truman Show (1998) demonstram como estamos preparados para exigir a “verdade”, desconfiando das “falsas realidades”, questionando-nos assim acerca do mundo em que vivemos (They Live (1988), Body Snatchers (1993)) ou até de quem somos realmente (Fight Club (1999), Memento (2000), Waking Life (2001)). Numa dialéctica permanente entre a realidade e as narrativas fílmicas, vemos nascer objectos críticos que apontam para a necessidade de examinar os agentes encarregados da construção da realidade. Um filme recente como Hyper-Normalization (2016) introduz um conceito-chave que descreve a hegemonia sistemática das ideias que estruturam a multiplicidade dos discursos na sociedade ocidental segundo um processo de afunilamento à escala global - a hiper-normalização enunciada por Adam Curtis é o estado disseminado de receber o que é falso como um procedimento aceite como normal devido a uma contínua falta de concretização de uma realidade alternativa. Neste estado de pós-verdade, as forças desconstrutoras da realidade organizam-se à escala global entre Wikileaks, Anonymous, Movimentos Occupy e primaveras políticas para responder, sem sucesso, a um sistema económico transnacional e interdependente que já se sabe falido mas ao qual não se afigura ainda uma alternativa concreta. Face à ineficácia de acções que não resolvem o nó endógeno, a falência do cinema enquanto agente modificador do mundo reconfigura as capacidades de qualquer possível intenção interventiva.

12.1.4. 2020, Donald Trump (Euronews)


12.2. A FICÇÃO CIENTÍFICA ENQUANTO FERRAMENTA DE ESTUDO

 

“Beyond the fiction of reality, there is the reality of the fiction.” 

Slavoj Žižek, Less Than Nothing: Hegel and the Shadow of Dialectical Materialism


O século XXI assiste, em simultâneo, à falência das ideologias e das religiões organizadas, e neste estado disseminado de descrença, estes olhos voltados para o infinito parecem reagir a uma falta de solução à vista para o contaminado tecido de entre-relações do mundo. Quando cem anos de cinema revelam a sua escassa eficácia em agir sobre as estruturas da vida prática, a pulverização da ficção científica entre narrativas menos preocupadas em estudar soluções para estruturas colectivas existentes, surge para propor mundos radicalmente novos, tabulas rasas que renovam a esperança para a civilização alhures, através da libertação pela ficção. Na exaustão da sobre-enunciação dos problemas globais pelo discurso mediático, a arte apropria-se do potencial de verdade contido na hipótese e na especulação. Face à realidade de um planeta materialmente esgotado, o espaço torna-se a derradeira Saída de Emergência


12.3. O NADA E O ‘‘MERCADO DO APOCALIPSE’’

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12.3.1. 1979. Alien, filme de Ridley Scott (a primeira de várias sequelas)

12.3.2. 1982. The Thing, filme de John Carpenter


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12.3.3. 2005. The War of the Worlds, filme de Steven Spielberg

12.3.4. 2007. The Mist, filme de Davide Manuli


No seu pessimismo, Steven Shaviro (5) dá voz à teoria aceleracionista e declara que o sabor a sistema sem saída, a dead-end, a fim-dos-tempos, prova como tudo, incluindo a destruição, participa hoje na mesma lógica do mercado: ‘‘vamos fazer o que podermos para capitalizar o mercado do apocalipse antes de toda a gente’’(12). A esteticização de tudo, alerta, inclui também a esteticização do nada. Shaviro (12) recorda-nos como estamos a viver hoje num estado de catástrofe em câmara lenta perante o qual a acção da ficção científica é a aceleração por excelência. Desde a guerra fria que a profusão da ficção sci-fi dá a ver das mais variadas formas as mais dúvidas e anseios face ao infinito desconhecido, entre abundantes narrativas de distopia e de apocalipse, tais  como Alien (IMAGEM 12.3.4), The Thing (IMAGEM 12.3.2), War of the Worlds (IMAGEM 12.3.3), The Mist (IMAGEM 12.3.4), entre tantos outros títulos. 

12.3.5. 1997. Comtact, filme de Robert Zemeckis

12.4. FICÇÃO CIENTÍFICA E ESPIRITUALIDADE

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12.4.1. 1988. Pereval, curta de animação de Vladimir Tarasov (URSS) 

Numa época atravessada por uma ‘‘crise espiritual’’, como indica Dimitri Goossens, encontramos uma força humanista nestas estórias de fé no progresso tecnológico, protagonizadas por jovens adultos que realizam no cosmos o futuro da raça. Aqui, o progresso técnico é um instrumento de potenciação do indivíduo - e da civilização

O sucesso da saga épica Star Wars, surgida em 1977 e aplaudida até ao presente, sublinharia de forma definidora a capacidade da narrativa cinematográfica espacial ser veículo de actualização de mitos. A demanda espiritual que atravessa os épicos episódios de Star Wars convoca, com contornos messiânicos, o encontro entre a concretização individual (contra todos os perigos da galáxia, este salvador predestinado possui dentro de si as potências superiores da ‘‘Força’’) e a aprendizagem pela progressão geracional, através da passagem de testemunho pelo ancião, o Mestre Jedi. Como afirmou Georges Lucas, que trabalhou próximo do mitólogo Joseph Campbell no roteiro de uma saga que se propunha a criar um objecto transversal às religiões, ‘‘a mitologia é uma construção de contexto para o desconhecido (...) e quando o filme saiu, quase todas as religiões conseguiam relacionar-se com o filme como exemplo da sua religião’’ (6). Enquanto a saga Star Wars exercita questões fundadoras com um humanismo universalista por base, assim prova como a estrutura moral da ficção científica pode estabelecer uma relação real e consequente com o comum. Adianta-se a possibilidade da ficção científica voltada para o cosmos, na sua moldura dessacralizada, se constituir como exemplo de experiência de interpelação individual, reforçando o argumento da unidade da raça humana. Será que a ficção científica pode carregar consigo um projecto de pacifismo e de progressão espiritual? 


12.5. O COSMOS E A SIMBOLOGIA DA ORIGEM


‘‘A necessidade de pensar decorre do facto de ninguém ter estado presente no início.’’

Peter Sloterdijk (15)


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12.5.1. 1985. Siekierezada, filme de Witold Leszczyński 


‘‘A cosmogonia é o modelo exemplar de toda a espécie de fazer: não só porque o Cosmos e o arquétipo ideal ao mesmo tempo de toda a situação criadora e de toda a criação, mas também porque o Cosmos é uma obra divina; está, portanto, santificado na sua própria estrutura. Por extensão, tudo o que é perfeito, pleno, harmonioso, fértil, numa palavra: tudo o que é cosmizado, tudo o que se parece com o Cosmos é sagrado. (...) Ora o cosmos, não é demais repetir, é a obra exemplar dos deuses, é a sua obra prima.’’ Mircea Elíade (14)


No episódio A Personal Voyage, da série Cosmos, o astrónomo Carl Sagan lembra como a ‘‘o nascimento (...) é a profunda experiência precoce que influencia os nossos mitos e as nossas religiões, a nossa filosofia e a nossa ciência. O nascimento de uma criança evoca o mistério de outras origens - os inícios e os fins de mundos.’’ Na sua insondável distância, o tecto do mundo apresenta-se desde sempre como um mistério infinito para a raça, fonte da questão fundamental ‘‘da irrupção do ser para fora do nada’’ (14). O céu é o símbolo universal do Ser divino celeste, criador de universos, (...) dotado de uma presciência e sabedoria infinitas.(14) O céu é o símbolo complexo da ordem sagrada do universo, que ele revela pelo movimento circular e regular dos astros. (14) O céu é o instrumento do princípio - escreve Tchuang-tsé - e o Princípio é o remate do céu. (14)

Reflectir sobre o cosmos é actualizar questões científicas, filosóficas e religiosas eternas mas é, fundamentalmente, estreitar a proximidade à origem de tudo. Dúvidas não restam de que o século XXI concretiza, no cinema, a plena entrada do Homem na sua medida universal. Progressivamente, surgem objectos e personagens que dão voz às suas questões sobre o cosmos, tantas vezes numa acepção espiritual que convoca mitos fundadores, poderes superiores e hipóteses de transcendência e de intervenção divina  (IMAGENS 9.5). Com o virar do milénio e o incremento aos programas espaciais, a questão cósmica volta a protagonizar a actualidade noticiosa e a ser a primeira protagonista do sci-fi mainstream.  Progressivamente, o cosmos parece deixar de ser o incomensurável espaço sideral reservado aos astronautas. Grandes e pequenos ecrãs lembram agora como sair da fragilidade da Terra é o futuro inevitável da raça e a derradeira hipótese de que a experiência humana (em toda a sua potência, verdade, pureza, genuinidade) se recupere além, algures, num cosmos tão familiar mas até aqui tão esquecido. 


13 / CONDIÇÕES DE UMA EXISTÊNCIA PÓS-TÉCNICA E PÓS MATERIAL

‘‘Na definição expandida de Hardt e Negri de ‘‘subsumption’’, não é só o trabalhador que é subsomado pelo capital, mas todos os aspectos da vida pessoal e social. Isto significa que tudo na vida deve hoje ser encarado como uma espécie de trabalho: ainda estamos a trabalhar, mesmo quando consumimos, mesmo quando estamos a dormir. Afectos e sentimentos, capacidades linguísticas, modos de cooperação, formas de know-how e conhecimento explícito, expressões de desejo: todas foram apropriadas e tornadas fontes de valor acrescentado. Transmigrámos de uma situação de exploração extrínseca, em que o capital subordinava o trabalho e a subjectividade aos seus propósitos, para uma situação de exploração intrínseca, na qual o capital incorpora o trabalho e a subjectividade dentro dos seus próprios processos.’’ Steven Shaviro (5)



13.1. DO MODERNISMO ATÉ AO PÓS-MODERNISMO, ATÉ OUTRO LUGAR


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13.1.1. 1973. La Societé du Spectacle, filme de Guy Débord 


Seguindo os passos de Guy Débord e do actual até hoje La Societé du Spectacle, no seu texto “Pós-modernismo, ou a Lógica Cultural do Capitalismo Tardio” (11), Fredic Jameson relaciona a criação artística na pós-modernidade como uma “nova forma de superficialidade”, onde um “desaprofundamento” é definido por uma perda do “gesto utópico” presente na arte modernista. Se o modernismo procurou, pela arte, a redenção e sacralização do mundo, devolvendo-lhe uma espécie de encantamento perdido com a evolução da ciência e o declínio da religião, a teoria pós-modernista aponta para uma “qualidade mórbida, onde a fria elegância do Raio X mortifica o olho concretizado do espectador, numa forma que aparentemente, ao nível do conteúdo, não pareceria ter nada a ver com morte ou com obsessão ou ansiedade pela morte” (Graff). Por sua vez, François Lyotard escreveu que a passagem da Modernidade à Pós-Modernidade significa ‘‘o abandono das grandes narrativas’’, e que esta transição, assente na perda da aura diagnosticada por Benjamin, é também o contexto da dessacralização da experiência artística. Mas o que é que encontramos nestas narrativas sci-fi senão reconfigurações da linguagem épica e da potência activa do mito?


‘‘O mundo lego é o mundo humano após o seu fim, precisamente nesse sentido do colapso da universalidade dos hiperdispositivos metafísicos e materiais. No mundo lego não há separação entre natureza e cultura ou entre humano e animal dado que uma mesma matéria anímica e material fundamenta todas as hipóteses de existência. É certo que essa matéria é então “humanizada”, sendo sujeita à intencionalidade de uma consciência voluntarista do sujeito, recuperando uma hipótese de antropolego, mas não deixa de ser um passo numa direcção interessante. Na filosofia este tipo de postura tem vindo a ser denominada enquanto “aceleracionismo”: a ideia de que a brutal aceleração do capital provocará o seu colapso e a emergência de um tecnocomunismo onde o trabalho vivo finalmente se emancipará do trabalho morto e onde uma metafísica acrítica do desejo tomará o leme da espécie. O antropoceno poderá ser assim a era do homem não enquanto padrão moral ou configuração político-ideológica mas enquanto nome de uma determinada técnica e de um determinado devir, um multituceno.’’ Luhuna Carvalho sobre The Lego Movie (2014) e o Antropoceno (16)

13.1.2. 2016. Doomsday Prophecies, documentário do History Channel

13.1.3. 2016. Human Extinction By 2030 -The Last Hours of Humanity!, documentário do RT


13.2. CRIAÇÃO ARTÍSTICA À PROCURA DE SIGNIFICADO

Lyotard deduz deste movimento de evolução constante, um contexto onde o progresso se tornou uma condição previsível: a inovação científica já não é o novo deus, mas o projecto de ascensão literal para lá da Terra pode muito bem ser a abertura para uma outra amplitude cosmológica. Neste lugar de possibilidades, a criação artística alicerça-se em condições pós-técnicas e pós-materiais que explicam a necessidade estrutural do gesto criador contemporâneo de procurar participar numa ordem simbólica. Após décadas de produção artística alicerçada na demissão das capacidades transformativas da arte enquanto procura de significação para o mundo, a progressão científica parece perder a sua frieza ao reentrar no espaço comum pela porta da cultura mainstream.


13.3. O ESPECTADOR-CONSUMIDOR  

Analisando as vias de chegada desta disseminação cultural, suspendem-se várias questões: Se a circulação maioritária destes objectos usufrui da permeabilidade dos mesmos canais mainstream no tecido cultural global, será que estes objectos veiculam códigos dominantes? Apesar do seu controlo estético e da sua construção espectacular, será que estes filmes podem convocar um projecto sério de reflexão sobre o presente comum? Talvez estejamos no domínio das inevitabilidades: hoje, ser espectador artístico é necessariamente responder a uma ‘‘existência irredutivelmente técnica’’ (Stiegler), condição à-priori da ocupação das forças intelectuais pelo capitalismo cognitivo (Rancière). No entanto, enquanto projecto de envolvimento intelectual e afectivo, a experiência estética tem a capacidade de utilizar a seu favor o agenciamento total da atenção em que assenta e que dirige todos os momentos da existência na sociedade de consumo. Ou seja, as mesmas condições da alienação de uma sociedade global em espectáculo ininterrupto, podem ser as ferramentas estruturais para a interpelação do espectador habituado às regras do espectáculo. Provar-se-á, assim, mesmo entre os mais difundidos modelos, como as referências da arte e da cultura contemporâneas parecem esboçar respostas à crise espiritual da pós-modernidade, actualizando o projecto de encontrar novas formas e figuras para o que é inefável, e procurando evocar, através de objectos concretos, questões que os perpassam. ‘‘Tudo se desenha, mesmo o infinito’’, escreveu Bachelard, que recorda como a arte será sempre o espaço privilegiado para fixar tudo o que inquieta e ultrapassa os limites humanos.


‘‘Qualquer blockbuster sobre cataclismos iminentes acaba por dizer mais sobre os tempos que correm que o recorrente retorno aos pânicos existenciais da pequeno-burguesia do cinema de autor.’’ Luhuna Carvalho (16)


14 / A FICÇÃO CIENTÍFICA COMO ESQUEMA DE DIPLOMACIA FUNCIONAL

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14.1. 2016. The Arrival,  filme de Dennis Villeneuve


Numa delicada época de tensões como a que vivemos, os alarmes ideológicos parecem soar em todas as direcções. Há responsabilidades maiores a orientar a criação os objectos de ficção que vão ser difundidos à escala global? Talvez não seja por acaso que um filme como The Arrival, cuja narrativa se desenvolve a partir da chegada dos aliens à terra, proponha uma necessidade de conciliação entre países para encontrar na união de esforços uma reorganização da espécie humana enquanto tal. Quase nos parece inverossímil mas, nesta história, a China aceita coligar-se aos EUA, desempenhando um papel decisivo para evitar um conflito interespécies que destruiria o planeta. Também Rogue One, o mais recente filme da saga Star Wars mantém, tal como o anterior Episódio VII - The Force Awakens, uma óbvia atenção à diversidade étnica dos seus protagonistas (sendo o cast principal composto pelos actores Felicity Jones, Diego Luna, Ben Mendelsohn, Donnie Yen, Jiang Wen, Forest Whitaker, Mads Mikkelsen, Alan Tudyk e Riz Ahmed). Claro que se deduz à partida que esta diversidade contém preocupações comerciais com as fontes prévias de financiamento tanto como com a exportação internacional do filme. Não obstante, será que, hoje mais do que nunca, o cinema mainstream carrega consigo a função especulativa de criar possibilidades que esbatam o crescendo dos nacionalismos, assim promovendo, através da ficção, esquemas de resolução pacífica?

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14.2. 2002. ‘‘We are all made of stars’’, single do cantor norte-americano Moby, que surge no videoclip vestido de astronauta.

14.3. 2016. Roupas de palco da cantautora norte-americana Computer Magic.

14.4. 2017. O Espaço que nos une, ‘‘brevemente’’ nos Cinema City Campo Pequeno (Lisboa), teen-movie com a colonização humana de Marte como pano-de-fundo.

16 /  OUR WAY 

Cósmico, galáctico, estelar, sideral, nuclear, radioactivo ou atómico ainda nos parecem hoje adjectivos ridículos e distantes da realidade, saídos de uma banda-desenhada sci-fi retro. No entanto, relacionam-se com algumas das mais decisivas questões a tomar em consideração na urgência do presente. Será este contíguo estado de espectáculo uma forma de desinformação? Será que a nossa linguagem - e, por isso, o nosso pensamento - é refém de uma agenda ulterior e dominante, designada pelo poder político e mediático, capaz de pôr e tirar do discurso em espaço público?

Entretanto, neste dia 20 de Janeiro de 2017, a dança do baile de tomada de posse de Trump acontece ao som da música My Way, de Frank Sinatra. Só pode ser um golpe de humor ou de estupidez, concluímos, que Trump tenha escolhido uma canção de tom fúnebre para celebrar a sua inauguração; resta-nos engolir em seco e achar caricato pensar nisto tudo enquanto se fazem ouvir os primeiros versos da canção: "And now, the end is near / And so I face the final curtain...". Respondemos à velha música com uma música nova, como se assim respondendo aos maus presságios com as toadas de esperança que a jovem Computer Magic entoa pelas ruas de Nova Iorque - enquanto se passeia vestida de astronauta, com a cabeça pregada no futuro (13):

‘‘Can we live,

Can we live

A little longer?

Just a little longer?

Is it ending soon?

Can I be with you

Another day?

Another day?

The world is ending

Way too fast’’

THE END OF TIME (Computer Magic)


ADENDA #1: Doze dias depois deste texto se dar por concluído, a dia 22 de Fevereiro de 2017, a notícia da descoberta de ‘‘Sete exoplanetas similares à Terra encontrados num sistema solar distante’’ foi mediaticamente recebida com entusiasmo, por reunirem as condições para a existência de vida. 

ADENDA #2:  A 22 de Março de 2017, Trump assina a legislatura que disponibiliza 19,5 bilhões à NASA para que dê seguimento ao seu plano previamente anunciado de levar humanos a Marte até 2030. (18)


NOTAS DE RODAPÉ: 

(1) CNN:  http://edition.cnn.com/2016/11/28/politics/space-war-us-military-preparations/ 

(2) Twilight Zone: a mais emblemática série de ficção científica, surreal e fantástico - iniciada em 1959. 

(3) Fonte: Watch the Skies!: Sci-Fi, the 1950s and Us, documentário de Richard Schickel, 2005

(4) Documentário de Bill Moyers com George Lucas sobre Star Wars

(5) Steven Shaviro em: http://www.e-flux.com/journal/46/60070/accelerationist-aesthetics-necessary-inefficiency-in-times-of-real-subsumption/

(6) Homo Cosmicus é também uma expressão usada no contexto da especulação científica para denominar uma versão tecnologicamente melhorada do organismo humano, necessária para viagens espaciais com ‘‘recurso a hipotéticos nanorrobôs que poderiam transformar as células a partir do interior e alterar os genes a fim de adaptar a nossa configuração biológica ao meio ambiente alienígena.’’ Fonte: Revista Super Interessante, http://www.superinteressante.pt/index.php/espaco/artigos/2522

(7) O famoso discurso de Kennedy "Landing a man on the Moon" foi endereçado ao Congresso a 25 de Maio de 1961:  https://www.youtube.com/watch?v=TUXuV7XbZvU

(8) Programa televisivo ‘‘Foreign Affairs’’, em torno do tema ‘’Space Exploration & "Dreaming Big" (2012) com Neil deGrasse Tyson, astrofísico, autor, apresentador da mais versão recente do programa Cosmos e director do Hayden Planetarium (Museu Americano de História Natural)

(9) O Presidente Obama descreve o futuro do projecto NASA no Kennedy Space Center. 15/4/2010: https://www.youtube.com/watch?v=4jQ9HvtGWok

(10) webshow - Jung & Naiv: Episode 284: Noam Chomsky: The Alien perspective on humanity: https://www.youtube.com/watch?v=h0qdbsE3Jqo

(11) Fredic Jameson, texto Pós-Modernidade: a lógica cultural do capitalismo tardio (1984)

(12) Conferência de Steven Shaviro, "Accelerationism: An Introduction", Grand Valley State University (2013): https://www.youtube.com/watch?v=gi6I0K2PJrw&t=458s

(13) THE END OF TIME (primeiro single de Computer Magic, 2011): https://www.youtube.com/watch?v=1dwNIuN9LN8

(14) Dicionário dos Símbolos de Jean Chevalier & Alain Gheerbrandt, Teorema, 1982 

(15) ‘‘Welcome to the Anthropocene’’, debate com Peter Sloterdijk and Bernard Stiegler https://www.youtube.com/watch?v=HoxPk4VBbOk

(16) Luhuna Carvalho, O Tempo dos Asssassinos IV – Not with a Whimper but a Crash, https://obeissancemorte.wordpress.com/2014/12/18/o-tempo-dos-asssassinos-iv-not-with-a-whimper-but-a-crash/

(17) Luhuna Carvalho, O tempo da ruptura do mundo: "Antropoceno" e capital, FCSH, 2015

(18) http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/03/1868672-trump-assina-lei-para-nasa-levar-humanos-a-marte-ate-2030.shtml