GAMBOZINOS
de João Nicolau, 2013
Porto! Há Filmes na Baixa!
Misteriosas criaturas da noite e da floresta, os gambozinos são uma mitologia exclusiva da infância e é na esfera em que a magia e a realidade se cruzam que esta curta-metragem de João Nicolau nos situa. Gambozinos passa-se como uma fábula, onde tudo é inesperado e tudo é possível. Como em Rapace ou em John From (também do autor), o que acontece está ao nível do olhar das jovens personagens, na liberdade intransmissível dos seus imaginários. No caso de Gambozinos, este encaixe adquire literalidade e, se a câmara circula à medida dos corpos e dos ritmos infantis, também encontra figurações para o seu universo interior, povoado de medos e de monstros, de heróis de BD e de cultura pop. O mundo é esta colónia de férias e, testemunhas das efabulações de um pré-adolescente na liberdade ilimitada de um verão, acompanhamos com privilegiada proximidade as pequenas narrativas dos dias que se sucedem com um peso dramático próprio dessa frescura da experiência. Os rufias são aterrorizadores e plantam o pânico, e o sucesso com as miúdas é motivo para preces organizadas ao Grande Marsupilami. O drama vivido pelo nosso pequeno protagonista é de uma gravidade inacessível aos adultos presentes e esta sensação de isolamento sintetiza, precisamente, essa constituição individual da passagem da infância à adolescência, a acontecer aceleradamente por dentro do receoso jovem. Na sua imaginária incondicionalidade, o gambozino materializa uma alteridade protectora para estes anseios, um alicerce mitológico que assegura o jovem guerreiro, confiante num monstro-amigo-imaginário que virá em seu auxílio no combate de titãs entre Trolls e Exterminadores. Dissolvendo a sua inserção espácio-temporal, o cinema de João Nicolau constrói um chamamento necessário às possibilidades da imaginação, evocando a qualidade primitiva da fantasia enquanto lugar universal do espírito.
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