sexta-feira, 7 de abril de 2017

2017 / 秋葉原 (Akihabara) meu amor - exposição de GONÇALO SOARES

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7 - 12 ABRIL 2007/ GALERIA GERMINAL
秋葉原 (Akihabara) meu amor
exposição de GONÇALO SOARES


Formado pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Gonçalo Soares tem-se evidenciado enquanto realizador e fotógrafo, mas assinado colaborações várias nas áreas da escrita, da imagem e da montagem de cinema. Aqui expondo pela primeira vez o seu trabalho fotográfico, o projecto (AKIHABARA) meu amor parece ligar-nos ao seu percurso prévio: reencontramos os ambientes nocturnos de CAVERN CLUB (2015), os videojogos que dão o mote a I’M NOT PLAYING GAMES HERE (2014), as vidas dos jovens em Lisboa que estão no pano de fundo de O 4º CRESCENTE DE ANA PESSOA (2011) e a ligação criada pela partilha de referentes culturais explorada em SUBTITLES GIRL (2009). Mas se há algo de verdadeiramente comum a todas as narrativas de Gonçalo Soares é todas serem contextos de uma história-de-amor: o amor entre raparigas e rapazes, o amor por cinema, por videojogos e... por um bairro. Gonçalo Soares conduz-nos, em visita guiada, a Akihabara e a Galeria Germinal abre as suas portas ao pleno sentido de liberdade de uma instalação que convida à experiência material deste estado de encantamento.  
GALERIA GERMINAL
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NOTA DE INTENÇÕES // Ao regressar do Japão, sabia que uma coisa me marcara mais do que tudo o resto. Acerca desses dias em Tóquio, costumo dizer que passei as manhãs a fazer turismo e as tardes em Akihabara. O ‘’bairro electrónico’’ foi o único local que quis conhecer na totalidade - e mesmo assim não consegui. Sentimos algo de estranho ao aterrar no Japão. Parece que, de algum modo, já vimos tudo aquilo em animé, em filmes, em vídeos de japonesices peculiares. Akihabara é o epicentro da cultura pop que nos invadiu nos anos ’90. Reconhecemos tudo: a travessia é um constante assalto visual e auditivo das referências de que temos memória sem nunca ter estado lá. São estes os elementos constituintes de uma “Akihabara de superfície” mas, tal como num videojogo, aqui existem portas e segredos para explorar. A “Akihabara profunda” constrói-se dentro dos edifícios sem janelas e em andares subterrâneos. Tudo se soma numa Akihabara real, à qual não acedi na íntegra. O que trago dela é um mero conjunto de representações - através das quais simulamos uma interacção com Akihabara. Quando percebi que não podia voltar sem imagens, comprei lá câmaras descartáveis da Fuji - e o retrato desta Akihabara faz-se das snapshots e objectos que compõem o núcleo da exposição. A Akihabara “televisada” chega através de imagens em livestream no Youtube, pretendendo chegar ao que é andar pelo meio daquelas ruas. A minha Akihabara pessoal nasce da reconstituição do meu espaço pessoal, como se assim construindo uma aproximação aos sentimentos que trago comigo. Procuro materializar a experiência do regresso a Lisboa, recordando os rostos e memórias de sempre que habitam as minhas noites. Eram 4 da manhã em Lisboa quando, há uns anos, recebi um telefonema do meu amigo Cláudio. Ele estava em Tóquio: “- Puto, tenho as piores notícias de sempre: isto é tal e qual como nós imaginávamos.” O Cláudio adiantava-me o sentimento que em breve experienciaria: essa inescapável vontade de querer ficar em Akihabara, o bairro electrónico que é real e tão perfeito como a imaginação. As minhas memórias de Akihabara somam-se numa dor distante, difícil de suportar. Uma dor que se aproxima da perda de um amor (eu diria)...


Gonçalo Soares * LISBOA, ABRIL 2017

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